Carnavalescos da Grande Rio expõem obras no Museu do Samba

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A dupla de carnavalescos do Acadêmicos do Grande Rio, Gabriel Haddad e Leonardo Bora, precisou de organização redobrada, nos últimos meses do ano passado. Além de coordenarem a feitura do móbile “Gamboa III”, de Beatriz Milhazes, que está exposto no Masp, assinaram o projeto expográfico da mostra “SEMBA/SAMBA: corpos e atravessamentos”, simbolicamente inaugurada no dia 2 de dezembro de 2020, Dia Nacional do Samba, no Museu do Samba, mas aberta para o público somente agora. Idealizada por um coletivo de pesquisadores e jornalistas formado por Aloy Jupiara, Felipe Ferreira, Nilcemar Nogueira e Rachel Valença, a exposição conta com a curadoria textual de Nei Lopes e Luiz Antonio Simas. Bora e Haddad, curadores convidados, precisaram traduzir os conceitos de Simas e Lopes em salas temáticas, dialogando com artistas que debatem as matrizes do samba carioca e o carnaval das escolas de samba.

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Para a dupla de carnavalescos, trata-se de uma ocupação importante: “O contexto pandêmico exigiu flexibilidade. A exposição foi montada aos poucos, porque vários artistas produziram obras especialmente para a mostra, o que enriqueceu a nossa ideia inicial. E foi uma forma de empregar, ainda que por pouco tempo, alguns trabalhadores da folia, como o escultor em espuma Orlando Sérgio, que confeccionou as raízes do abre-alas da Grande Rio de 2020 e adaptou parte da sua obra ao espaço do Museu do Samba. Agora, na semana do carnaval, as visitas guiadas, com grupos reduzidos, poderão acontecer com maior frequência e segurança. De início, o Museu recebeu apenas visitas institucionais e gravou depoimentos por vídeo”, explicou Haddad.

A exposição apresenta obras de artistas que entendem o dia a dia dos barracões das escolas de samba, como a escultora Marina Vergara, as carnavalescas Rosa Magalhães, Lícia Lacerda, Maria Augusta e Annik Salmon, os carnavalescos Milton Cunha, João Vitor Araújo, Alexandre Louzada e Jorge Silveira, os chefes de ateliês Bruno César, Ana Bora e Alessandra Reis. Também estão expostos figurinos de Samile Cunha e Rafael BQueer, que são destaques performáticos, e reproduções de quatro pranchas desenhadas por Fernando Pinto para o desfile de 1972 do Império Serrano, em homenagem a Carmen Miranda. Além das obras desses artistas que ajudam a produzir o “Maior Espetáculo da Terra”, há fotografias de Ayrson Heráclito, Daniel Taveira, Lucas Bártolo, Almir Júnior, Wigder Frota e Talita Teixeira. Há, ainda, pinturas e colagens de nomes que dialogam com os espaços e os corpos carnavalescos, como Tia Lúcia, Guilherme Kid, Mulambö, André Vargas, Osmar Igbode, Cibelle Arcanjo e Júlia Tavares. Peças do acervo do Museu foram incorporadas à narrativa, como a tela “Vedetes, baianas e passistas”, de Nelson Sargento.

Um dos artistas com mais obras expostas é Antônio Gonzaga, compositor de sambas de enredo e membro da equipe de criação de Bora e Haddad. É dele a série “Porta de entrada”, exposta ao público pela primeira vez. “É uma série de pinturas que eu fiz sobre portas que peguei em caçambas, em diferentes bairros da cidade do Rio de Janeiro. Falam do abandono de partes das nossas casas e do abandono dos corpos pretos. Quando eu utilizo esses suportes rejeitados para pintar corpos sereianos coroados, uma realeza marinha, eu estou fazendo da pintura um discurso de resistência. Falo de diáspora e de renascimento”, contou o artista.

Para Gonzaga, que também é autor do projeto visual da exposição, não mais há espaço para fronteiras entre práticas artísticas. “Mais do que nunca, eu acredito na arte, sem rótulos. Esse diálogo de linguagens é muito estimulante. É preciso que a gente continue ocupando esses espaços, debatendo arte, falando sobre o samba e sobre os saberes que circulam nas quadras, nos barracões e nos ateliês das escolas de samba” – declarou o jovem artista e sambista, de apenas 26 anos.

Leonardo Bora destaca o fato de que a exposição não deixa de expressar, também, a permanência do desfile de 2020 da Grande Rio, vice-campeão do carnaval carioca com o enredo “Tata Londirá: o canto do caboclo no Quilombo de Caxias”, em homenagem a Joãozinho da Gomeia, pai de santo que desfilava como destaque de luxo.    “Algumas tramas e esculturas que ajudaram a compor os carros alegóricos do último desfile da Grande Rio estão expostas. Além de três esculturas de orixás, há quatro esculturas de máscaras Yaka. Essas peças foram esculpidas por Marina Vergara e equipe, reproduzidas em fibra por Renato Castro e equipe, pintadas por Gilmar Moreira, Rafael Vieira e equipe e adereçadas por Simone Márcia e equipe. Muitas pessoas, portanto, trabalharam na confecção de esculturas que adquirem outros significados quando deslocadas dos carros alegóricos e expostas num museu. É fundamental que o público conheça as tantas etapas dessa cadeia produtiva e leia os nomes dos outros artistas envolvidos no processo, que muitas vezes acabam invisibilizados. E é muito importante conversar com outras manifestações carnavalescas que ressignificam o universo do samba, caso do Carnaval de Maquete, representado por uma obra de Nícolas Gonçalves”, apontou Bora.

Para adentrar mais no universo da exposição, Leonardo Bora e Gabriel Haddad, juntamente com o curador e mestre em artes Leonardo Antan, do portal Carnavalize, e representantes do portal Mais Carnaval, irão conduzir uma roda de conversa virtual com alguns dos artistas que possuem obras expostas no Museu do Samba e que trabalham diretamente nos ateliês e nos barracões. Segundo os carnavalescos, a ideia é produzir uma série de conversas públicas, ao longo do ano, para dar voz aos artistas participantes da mostra. A primeira dessas conversas reunirá Marina Vergara, escultora da Grande Rio, Alessandra Reis, chefe de ateliê da Viradouro e da Vila Isabel, Nícolas Gonçalves, cenógrafo formado pela Escola de Belas Artes e carnavalesco virtual, e Antônio Gonzaga, compositor de sambas de enredo e designer da Grande Rio. A live será realizada no dia 18 de fevereiro, quinta-feira, às 20:30 horas, no canal do youtube do Mais Carnaval (youtube.com/maiscarnavaltv).

A exposição “SEMBA/SAMBA: corpos e atravessamentos” está em cartaz no Museu do Samba até dezembro de 2021.

Fotos: Divulgação


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